domingo, 21 de agosto de 2011

Se ele tivesse nascido mulher... Eduardo Galeano


Dos dezesseis irmãos de Benjamin Franklin, Jane é a que mais se parece com ele em talento e força de vontade.

Mas na idade em que Benjamin saiu de casa para abrir seu próprio caminho, Jane casou-se com um seleiro pobre, que a aceitou sem dote, e dez meses depois deu à luz seu primeiro filho. Desde então, durante um quarto de século, Jane teve um filho a cada dois anos. Algumas crianças morreram, e cada morte abriu-lhe um talho no peito. As que viveram exigiram comida, abrigo, instrução e consolo. Jane passou noites a fio ninando os que choravam, lavou montanhas de roupa, banhou montões de crianças, correu do mercado à cozinha, esfregou torres de pratos, ensinou abecedários e ofícios, trabalhou ombro a ombro com o marido na oficina e atendeu os hóspedes cujo aluguel ajudava a encher a panela. Jane foi esposa devota e viúva exemplar; e quando os filhos já estavam crescidos, encarregou-se dos próprios pais, doentes, de suas filhas solteironas e de seus netos desamparados.

Jane jamais conheceu o prazer de se deixar flutuar em um lago, levada a deriva pelo fio de um papagaio, como costumava fazer Benjamin, apesar da idade. Jane nunca teve tempo de pensar, nem se permitiu duvidar. Benjamin continua sendo um amante fervoroso, mas Jane ignora que o sexo possa produzir outra coisa além de filhos.

Benjamin, fundador de uma nação de inventores, é um grande homem de todos os tempos. Jane é uma mulher do seu tempo, igual a quase todas as mulheres de todos os tempos, que cumpriu o seu dever nesta terra e expiou parte de sua culpa na maldição bíblica. Ela fez o possível para não ficar louca e buscou, em vão, um pouco de silêncio.

Seu caso não despertará o interesse dos historiadores.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Oficina de Cartazes é realizada nessa quarta, no Bosque de Letras

Nessa quarta-feira, o Coletivo Todas se reuniu para uma oficina de Cartazes no Bosque de Letras, da UFC. O objetivo era se manifestar sobre o ato de homofobia que aconteceu durante o recesso das aulas no Centro de Humanidades da  UECE. Alguns cartazes serão colocados no CH da Uece como forma de denunciar, reprovar e se manifestar contra a ação de homofobia.




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Abertura da Marcha das Margaridas reúne 50 mil pessoas em Brasília

Cerca de 50 mil pessoas acompanharam a abertura da 4ª Marcha das Margaridas na tarde desta terça-feira (16), no Parque da Cidade, em Brasília. A marcha é coordenada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agriocultura (Contag) e outras entidades sindicais.

Nesta quarta, as trabalhadoras fazem marcha na Esplanada dos Ministérios por mais direitos às mulheres no campo. Para a realização do evento, trechos do Eixo Monumental estarão fechados entre 6h e 12h.
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que estava na abertura do evento, afirmou que a marcha não vai causar incômodo à população. "Tenho certeza que não vai ser um transtorno."
Coordenadora da Marcha das Margaridas e secretária de Mulheres da Contag, Carmen Foro disse que desde a primeira marcha as mulheres "saíram da invisibilidade". “Não acreditamos que há desenvolvimento sem justiça, autonomia, liberdade e igualdade entre homens e mulheres.”
O nome da marcha, que também aconteceu em 2000, 2003 e 2007, é inspirado na sindicalista rural Margarida Maria Alves, assassinada em 1983 em Alagoa Grande, na Paraíba. Entre os objetivos dos manifestantes está o protesto contra as desigualdades sociais, a denúncia a todas as formas de violência, exploração e dominação e o avanço na construção da igualdade para as mulheres.
A líder camponesa Elizabeth Teixeira, de 86 anos, foi homenageada durante a abertura. Viúva do fundador da Liga Camponesa de Sapé, na Paraíba, João Pedro Teixeira, ela foi presa durante a ditadura e teve marido e dois filhos assassinados na luta por terra. “É muito difícil a vida dos trabalhadores do campo.”
Acompanhada de quatro amigas e um amigo, Maria Da Glória Carneiro Santos, de 56 anos, saiu de Várzea da Roça, na Bahia, para participar pela primeira vez da Marcha das Margaridas. Ela disse que vende cocada para merenda escolar e que está pela segunda vez na cidade. “Espero que a presidente, como mulher, olhe mais para nossas necessidades.”


PLATAFORMA POLÍTICA MARCHA DAS MARGARIDAS:


As Mulheres Trabalhadoras Rurais do campo e da floresta estão na luta e nas ruas por desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade.
Principais eixos da nossa plataforma:

BIODIVERSIDADE E DEMOCRATIZAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS – BENS COMUNS:Em defesa do patrimônio genético, gestão e manejo sustentável dos bens comuns, da matriz energética sustentável, de uma vida saudável, sem agrotóxicos e transgênicos. Em defesa do agro extrativismo, da terra, da água e da floresta viva.

TERRA, ÁGUA E AGROECOLOGIA:Na luta pela reforma agrária, o acesso das mulheres a terra, a democratização e racionalidade no uso dos bens comuns, da agroecologia como modo de produzir e se relacionar na agricultura.

SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: Queremos o fortalecimento da agricultura familiar,  alimentos saudáveis para a população, a valorização da organização produtiva das mulheres, do comércio justo e solidário e do consumo responsável.

AUTONOMIA ECONÔMICA, TRABALHO, EMPREGO E RENDA:Em defesa da autonomia econômica das mulheres, dos direitos trabalhistas e previdenciários; apoio à organização produtiva com crédito e assistência técnica; valorização da política nacional salário mínimo; por creches nas comunidades rurais;  pela. divisão sexual do trabalho e igualdade no mundo do trabalho,

SAÚDE PÚBLICA E DIREITOS REPRODUTIVOS:Sistema Único de Saúde (SUS) de qualidade;  assistência integral à saúde da mulher; pelo direito ao nosso próprio corpo.

EDUCAÇÃO NÃO SEXISTA, SEXUALIDADE E VIOLÊNCIA:Por uma educação não sexista, pela autonomia econômica e pessoal, livre orientação sexual e o fim de todas as formas de violência contra as mulheres

DEMOCRACIA, PODER E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA:Democracia plena; pela ampliação da participação das mulheres do campo e da floresta nos espaços de poder e decisão política no país e no MSTTR; reforma política  com igualdade para as mulheres.



Mais informações: clique aqui :)

Rola por aí...




Rebelião no Espírito Santo deixou 39 detentas feridas

Em uma penitenciária no Espírito Santo houve na tarde desta segunda-feira (15) uma rebelião que deixou 38 mulheres intoxicadas e uma ferida. A rebelião aconteceu devido a um protesto feito pelas detentas do Presídio Feminino de Tucum, em Cariacica, o motivo do protesto era devido a uma transferência das presas para outra unidade penitenciária. As presidiárias atearam fogo em colchões e houve também a necessidade da intervenção do Corpo de Bombeiros da cidade, que controlou a chama em aproximadamente 30 minutos.
Foram enviadas para o Presídio sete ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para poder atender às mulheres que ficaram feridas durante a rebelião. A maioria delas precisou de atendimento por terem inalado grande quantidade de fumaça. Após serem atendidas todas as feridas foram enviadas a hospitais da região.
O protesto das detentas era devido a elas não quererem ser transferidas para o Centro de Detenção Provisória de Xuri, em Vila Velha. O motivo da transferência das presas é que o governo pretende desativar o presídio de Tucum, que no momento da rebelião estava abrigando 346 detentas, de acordo com as informações repassadas pelo governo do Estado do Espírito Santo.
A rebelião aconteceu ontem às 16 horas da tarde e somente foi controlado depois de duas horas. Segundo a Secretaria Estadual de Justiça do Espírito Santo, a presa que teria encabeçado a rebelião se chama Marta de Jesus Santos, ela jogou um tanque de lavar roupas nas agentes penitenciárias, que revidaram com tiros, mas a detenta não ficou gravemente ferida.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cotidiano da mercantilização da vida

Não é mais o galo que anuncia aos quatro ventos o nascer do dia. O acontecimento é anunciado pelo relógio da praça e pelo barulho dos carros, que lá fora, começa a aumentar. O barulho se altera. O silêncio da madrugada não tem mais vez diante de tanta coisa que acontece num mesmo espaço de tempo.
Quando o despertador incomoda com seu barulho chato, diz que é hora de levantar. Não para se tomar um bom café, ouvir uma boa música ou ler um bom livro. É hora de levantar, tomar banho e trabalhar.
A dona de casa faz tudo quase que no automático: levanta, mal tem tempo pra fazer um xixi e já tem que colocar a água do café pra ferver. Enquanto escova os dentes, já vai atrás das moedas pra comprar o pão na padaria mais próxima e da toalha para colocar na mesa. Quando os filhos acordarem e o marido, tudo tem que estar pronto. Esses tomarão o café e irão para o trabalho ou para a escola. A dona de casa por sua vez, ficará em casa, trabalhando também, lavando, passando, cozinhando e cuidado das ninharias que a sociedade insiste em ignorar.
Ao chegar na escola, os filhos descobrem que não haverá aula. A professora de ambos está atuando na greve, que acabou de ser deflagrada, exigindo seu direito de melhores condições de trabalho e valorização do mesmo. As crianças voltam pra casa e encontram a dona de casa arrumando as coisas, e pedindo as crianças para irem brincar.
Enquanto isso, a professora dos meninos está numa passeata no centro da cidade, exigindo que o governo a receba, dizendo a sociedade que, para que haja uma educação de qualidade, a profissão de professor deve ser valorizada!
A dona de casa não entende muito bem dessas coisas e não gosta de ver seus filhos em casa, ociosos, mas não tem opinião formada sobre se fazer greve é certo ou errado. Pouco tempo tem pra pensar, abstrair. Pouco tempo tem para aprender. Quando muito, ela apreende o que tem que ser feito e sabe executar muito bem as tarefas incubadas em sua criação desde pequena. Ao recordar da infância lembra que gostava de brincar de escolinha e que seu sonho era um dia ser professora. Casou cedo, teve filho cedo. Não pode realizar seu sonho, como muitas donas de casa por aí... Por via das dúvidas, apóia a greve, indiretamente. Acha que os professores devem saber o que fazem.
A professora das crianças sofre repressão policial nas ruas. Leva spray de pimenta e cassetadas durante a passeata pacifica. O Estado reprime e o governo se recusa a receber os professores.
O marido da dona de casa chega do trabalho e pede sua janta. Cansado de dirigir o dia todo, mal presta atenção na dona de casa. Nesse momento, o cheiro que vem das panelas é a única coisa que chama sua atenção. Os filhos já dormem e a dona de casa toma um banho depois de um dia de tarefas cansativo. Ambos trabalharam muito, tanto a dona de casa como seu marido, mas no final do mês apenas este vai receber dinheiro pelo seu trabalho. A dona de casa não recebe gratificações. A sociedade insiste em dizer que ela não faz nada mais que sua obrigação. Vão se deitar, marido e mulher. E, enquanto a dona de casa não consegue desligar, pensando no que se tem a fazer amanhã, já se pode ouvir os sons de ronco do marido que trabalhou fora o dia todo. A dona de casa o abraça e ele retribui com um beijo em sua testa. Depois volta a roncar.
Depois de um dia inteiro na delegacia, fazendo b.o, denunciando a repressão e com a assembléia geral marcada já para o dia seguinte, a professora chega, tarde da noite em casa, exausta, mas com a sensação de dever cumprido. O seu marido também é professor e enquanto ela estava na passeata, estava em reunião sindical da categoria, para decidirem os próximos passos da greve. Quando ela chega, ele já está em casa, esperando pra contar as últimas novidades e perguntar como foi o dia da greve.
Ela chega, toma um banho e vai fazer a janta, enquanto o marido senta ao seu lado na cozinha e conta sobre a reunião. Ela faz a janta pros dois e depois de ter comido, o marido vai deitar, enquanto a professora termina de lavar a louça e colocar o lixo na rua. Estão juntos na greve,mas o cotidiano os separa.
No fundo, mesmo sem saber, a dona de casa e a professora tem algo em comum, algo que as une. Entender esse algo é compreender que a luta das trabalhadoras é também a luta das donas de casa, é a luta de todas as mulheres da classe trabalhadora. Entender esse algo é também compreender que a luta das professoras é a luta dos professores, dos trabalhadores e trabalhadoras, das estudantes e dos estudantes, enfim, de todas as pessoas que sofrem, cotidianamente, as opressões impostas pelo capitalismo e que insistem em atacar a nossa vida e o nosso cotidiano.
É necessário também que se compreenda que a consciência feminista necessária para a superação das relações entre homens e mulheres só poderá ser alcançada quando superarmos essa estrutura de sociedade na qual nos encontramos, quando superarmos a vida compartilhada pelo trabalho e exploração do mesmo. É necessário que mulheres e homens, trabalhadoras e trabalhadores se unam na perspectiva de um novo projeto de sociedade, que traga o fim dessa lógica de exploração  e o começo de um tempo verdadeiramente livre, onde todas e todos sejam potencialmente iguais.

A luta das trabalhadoras e trabalhadores da educação é a luta de todas as donas de casa, de todas as estudantes, de todas as mulheres!
A luta das professoras e professores é a luta de todas e todos nós!